sexta-feira, 6 de junho de 2008

A CARA DA CULTURA EM G.V.

Infelizmente temos que voltar a falar desse assunto chato que é a falta de interesse do artista valadarense (em especial os músicos) com a divulgação e a direção da nossa cultura. Há anos, vários artistas vêm tentando mobilizar a classe que sempre faz corpo mole. O que mais me irrita, é que depois que o “barco afunda”, eles vem chorando, e dizendo que a comunidade, a população não dão o devido valor para os trabalhos da “Prata da Casa”. Outra coisa que me deixa “P” da vida é artista ter o prazer de dizer que é apolítico. Eu nunca vi a cultura caminhar sem a política e vice e versa. Independente da sua escolha política se é partidária ou não, o mais importante é o desenvolvimento cultural de um povo. E quem mais tem que se preocupar com isso é o artista, que afinal de contas é o sujeito produtor e formador de opinião. Se ele não está nem aí, como dizem, como é que o povo vai dar valor ao seu trabalho?
Esse ano é ano político. Todas as classes já estão se reunindo para discutirem metas e diretrizes. Aí eu pergunto: E os artistas? Os músicos de todas as vertentes, atores de teatro, palhaços, malabaristas, artesões, artistas plásticos, escritores, poetas, etc. Onde estão? Se algum grupo resolve fazer uma mobilização, e marca uma reunião, (eu também não gosto muito de reuniões se não forem produtivas e se forem demoradas) a coisa mais difícil é juntar pessoas. Eles sempre têm um compromisso mais importante. Uns compromissos que não dá pra entender, como: acender a luz para os cachorros, ver o futebol, ir à boca de fumo comprar drogas porque a cidade ta em falta, (essa é a pior). Tem uns que marcam e não comparecem, e depois ficam ligando pra saber como foi, e o que foi resolvido.
Tem mais coisas que me deixam puto. Onde tem uma peça de teatro, não se vê músicos, artesões, artistas plásticos... E quando um músico faz um show, também não comparecem outros artistas. Ninguém quer comprar um CD, uma tela, um livro, um bordado, uma bata ou camisa de um artista da cidade. Eles acham que o artista tem obrigação de presenteá-los.
Se não houver cumplicidade e compromisso com a cultura, a cidade não anda, o artista não produz, e se produz não tem pra quem mostrar e vender, a não ser que se sujeitem à uma feirinha de artesanato que já virou feira gastronômica e de produtos industrializados, onde quase não se vê nada da cidade, salvo algumas barracas que ainda podemos apreciar.
Precisamos nos organizar!
Mais uma vez vamos ter eleição para prefeito e vereadores. Se você acha que está bom do jeito que está, paciência. Mas eu continuo dizendo: se a gente não se organizar, vamos passar mais tempo à toa, sem aparecer, sem expor nossos produtos, sem estar em evidência.
Todo ano temos G.V folia, festa da fantasia e outros eventos. Que benefício cultural esses eventos trazem para nossa cidade? Quando a cidade é visitada por turistas, ela tem por obrigação divulgar a sua cultura popular e ter orgulho disso, e não absorver a cultura de quem esta chegando. A cultura Baiana é respeitada em todo território nacional porque eles se engajam nos projetos, vão crescendo e levando os outros. Quando a baianada se reúne é uma festa muito bonita, com vários ritmos e grupos diferenciados. E eles se respeitam e se divulgam pelo país e pelo mundo afora. Eles têm CUMPLICIDADE E ORGANIZAÇÃO.
O Movimento Cultural do Vale do Jequitinhonha é um exemplo de trabalho em grupo. Parece que toda criança que nasce no Vale do Jequitinhonha, já nasce sabendo todas as cantigas de rodas, cirandas, brincadeiras, estórias, lendas, festas religiosas, apreciam a culinária da região, conhecendo os artistas locais e dando valor a eles independente de qual cidade o artista é. Por isso o sucesso cultural que é. Eles também se divulgam. E nós do Vale do Rio Doce ainda vamos aprender com eles.
Eu não quero trabalhar em vão, morar num vale sem expressão. Eu quero é poder cantar a minha cidade, o meu Vale do Rio Doce, não ter vergonha de mostrar a minha cara e minhas raízes.
Vamos cuidar de nos mobilizar e mostrar para os nossos futuros governantes que a cultura tem que ser discutida enquanto política pública. Vamos eleger um conselho municipal de cultura sério e que trabalhe de verdade, que aprovem projetos de qualidade sem interesse político. Vamos discutir e nos fortalecer para termos força para indicar um nome para a Secretaria de Cultura. Um nome que venha somar com nossas idéias e nos proporcionar melhores condições de trabalho. O que um presidente do comércio varejista entende de cultura? E um dono de farmácia? Dono de concessionária de motos?
Vamos parar de aceitar tudo que nos impõe.
Vamos nos reunir!
paulinhomanaca@hotmail.com 33-91998779
“A música, ou qualquer outra forma de expressão artística, são de natureza vital para o progresso intelectual de um povo”
Heitor Vila Lobos

2 comentários:

blog do jaime disse...

Paulinho, ótimo saber da existência de mais este espaço de debate e troca de idéias. Parabéns. Olha, tenho acompanhado e participado das lutas da Cultura muito diretamente nos últimos oito anos. De fato não tem sido fácil. Nossa cidade carece de uma construção coletiva que remonte as suas raízes, a sua formação: As lutas comunitárias na formação do Vale do Rio Doce no início do século XX. As práticas comunais de Figueira do Rio Doce não tem nada a ver com o que foi construido nas décadas posteriores a 1950. É só buscar na história. O entrelaçamento das famílias, o projeto comum e o bem coletivo. As ideías de aproveitamento racional das riquezas naturais e minerais através de desenvolvimento para todos. Nosso tecido social, político e cultural inicialmente projetado foi adormecido pela tese dos "Pioneiros" da indústria extrativa da madeira, da cana-de-açúcar e do comércio pujante, dos "empresários" da mica e das pedras preciosas, todos ligados ao sistema político dos latifunidiários do PSD e dos empertigados e almofadinhas da UDN, sucedidos pelos velhos conhecidos da ARENA e do MDB, todos em sua grande maioria gravitando em torno do espólio da grande siderúrgica. Quanto ás lutas culturais, caro Paulinho, trata-se de processo de construção.Constrói e participa dando de sí, quem pode dar. Ninguem dá o que não tem.Tempo, horas e horas dedicadas, chateação, estudos e viagens, saber ouvir as pessoas. Dividir os espaços públicos participando para o avanço da política pública sem interesses político-eleitorais. Falta na verdade a classe cultural saber reconhecer entre os seus e fazer com que os atores políticos respeitem quem faz e quem produz cultura. Estamos juntos e parabéns pelo espaço e pela engajamento na causa.
Jaime Luiz Rodrigues Júnior

Paulinho Manacá disse...

Obrigado copmpanheiro!!!
A luta é essa e assim vamos mais uma vez p batalha!!!
Abraços!!!

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